quarta-feira, 17 de abril de 2013

perdão

O organismo liderado por Christine Lagarde considera que o nosso país tem das finanças públicas mais insustentáveis do Mundo. O envelhecimento da população, conjugado com uma elevada dívida pública (mais de 122% do PIB) e um débil crescimento económico (0,6% em 2014), coloca Portugal no grupo dos países de risco. Segundo as contas do FMI, para que a dívida pública atinja os 60% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2030, o governo tem de fazer cortes permanentes da ordem dos 8,9% do PIB. São cerca de 15 mil milhões de euros (a preços de 2013), quase quatro vezes mais do que aquilo que Passos pretende cortar até 2015. CM

O "perdão de dívida" parece inevitável. Recordo  uma entrevista que Ulrich deu a propósito do perdão de 50% da dívida grega: Evidentemente, é uma medida que eu não gosto. Não é por, sobretudo, o BPI ter exposição à dívida grega, mas porque... etc. etc.  Eh eh. Mas entendo a posição dos Ulriches portugueses e europeus. É evidente que não concordam os perdões de dívida e é evidente que nunca é de modo nenhum pelas respectivas empresas que lideram assumirem perdas, mas sim por um qualquer motivo altruísta e filantrópico. Mas se é compreensível que partes directamente interessadas defendam os seus legítimos interesses, e até de elogiar que o façam de forma pública, não consigo entender o motivo pelo qual essa hipótese nunca é discutida a tempo, de forma realista, transparente e pública pelos políticos europeus.

Os jornais alemães noticiam a hipótese de um acordo secreto para um perdão total da dívida grega em 2015. Verdade ou não, é extremamente prejudicial a perpetuação de discursos de fachada paralelos a rumores contraditórios que depois se confirmam sempre.  Se um dos motivos fosse não assustar credores e investidores, facilitando um eventual retorno "aos mercados" e sustentando medidas impopulares, então este modo de agir teve o efeito precisamente contrário, uma vez que descredibiliza os líderes europeus, até junto dos próprios credores e investidores com quem os líderes, esquecidas que estão as populações, se parecem preocupar acima de tudo. As agências de notação classificam a nossa dívida como lixo desde finais de 2011. Essa classificação não se alterou por Passos Coelho, Cavaco Silva, Schauble ou Merkl dizerem repetidamente que Portugal é completamente diferente da Grécia e que aqui não pode ocorrer um perdão de dívidas, que a Grécia é uma excepção e que está tudo a correr bem. Ainda recentemente, a solução cipriota gerou o mesmo tipo de negação ("o problema do Chipre é completamente diferente do português"). A principal crítica que as agências de notação fazem a Portugal, e que estiveram na base da classificação de lixo, é a desconfiança face à capacidade de um crescimento do país suficientemente forte para pagar as dívidas e não na desconfiança face à capacidade de impor austeridade.

De facto, devido a estas sucessivas negações da realidade e ao facto de cada líder europeu estar sobretudo preocupado em defender os interesses do seu próprio sistema financeiro no que respeita aos créditos detidos sobre outros países (reforçando a ideia do posts anteriores de que o sistema financeiro é tudo menos liberal) podemos dizer que um perdão de dívida tem efeitos mais negativos do que teria há dois anos. E isto tem sido assim desde o início da crise. Por exemplo, teria sido melhor pedir a intervenção do FMI na altura certa, em vez de esperar até não termos margem negocial. Teria sido melhor implementar reformas ainda no tempo de José Sócrates, mas fomos de PEC em PEC, negando sucessivamente a realidade e pouco tempo antes estava ele a pedir créditos para aumentar salários públicos e baixar impostos. Teria sido melhor um governo ter sido eleito com um discurso honesto, em vez de perpetuar o discurso de mentira ("não vamos aumentar impostos") etc. Toda esta crise é marcada por uma dissociação brutal entre liderança política, seja em portugal ou no resto da europa, e a realidade pura e dura das contas, o que faz com que esta crise seja muito mais uma crise das democracias e lideranças europeias do que propriamente financeira. Estou plenamente convicto que se os líderes europeus tiverem um discurso realista, credível e honesto, é muito mais fácil às respectivas populações aceitarem alterações de nível de vida.

O perdão de dívida não significa um aliviar dos sintomas da crise e é preciso dizê-lo, mas introduz alguma verdade e justiça. A ideia de redistribuir e socializar imparidades por toda uma população é absurda e tem limites. É preciso abraçar o colapso de boa parte dos bancos com segurança e coragem e esperar por uma clarificação que resulte do mero acerto de contas porque, ao fim e ao cabo, é disso mesmo que se trata, balanços, dívidas incobráveis etc. Há bancos que são credores de dívida privada e pública portuguesa e que não vão ter o dinheiro de volta, sejam bancos portugueses ou estrangeiros. Haverá desmantelamento de bancos e nacionalizações (em vez das injustas injecções de capital). Muitos privados sofrerão com isso, embora nesta fase estejamos todos um pouco convencidos que vamos sofrer der por onde der. No fim sobrará um sistema financeiro mais forte e "limpo", como sucede em qualquer sector se deixarem a concorrência funcionar

Se o euro acabar no processo, ou nós sairmos dele, então isso será uma consequência dos factos que de qualquer forma são inevitáveis, como foram até agora. Tenho a suspeita de que a importância política do euro só poderá voltar à mesa num contexto em que é posto definitivamente em causa. Se o Euro continuar, também continua mais forte do que é actualmente, uma vez que estará mais liberta de incerteza e resultará de um compromisso assumido num contexto muito mais realista e informado do que aquele em que foi, à pressa e muito "optimisticamente", criado.

Há outro argumento importante a favor da precipitação rápida dos factos, versus o arrastar da situação. Se os europeus pudessem optar entre duas hipóteses, uma em que tudo é revelado e batemos no fundo rápido para crescer mais rápido e outra em que andamos décadas como crianças num hospital sujeitas a sucessivas dolorosas injecções em que cada uma é supostamente a "última", tenho o pressentimento que escolheríamos a primeira hipótese. A crise também é algo de psicológico que afecta as populações, os empresários, investidores, muitas vezes de forma irracional e que depois provoca uma espiral ainda mais depressiva. Trata-se de uma situação de desgaste prolongado, potenciada  pela ausência de luz credível ao fundo do túnel, pela falta de esperança. Este desânimo é agravado pelas "lideranças" europeias que fazem precisamente o oposto do que deveriam: decidem e negociam em segredo entre si, com os credores, FMI e banca e, aos seus eleitores, a quem na verdade têm de prestar contas, atiram um discurso de fachada e ou demagogia.

6 comentários:

Anónimo disse...

Olha ó Tolan, vou ser muito sincero contigo. Não li este e não li nenhuma dos teus posts em relação à crise e a dívida etc. Acho que és bom a escrever outras coisas. Sobre economia ou sobre política (então sobre História) és uma papa completa. Não tens nada definido. Escreves em elipses. És indefinido. É apenas um reparo. Porque não me prende um pouco aquilo que escreves e fico sempre sem perceber concretamente onde queres chegar. Fico sempre com uma sensação de perdido e sem ritmo.
R.

Tolan disse...

ok, portanto, não lês, mas tens uma opinião, obrigado. Do que me recordo de todas as tuas intervenções em textos desse tipo é que me parecias padecer de uma dislexia altamente selectiva e de origem profundamente ideológica e que te levava quase sempre a desviar completamente o objecto do texto para assuntos completamente alheios ao mesmo.

Tolan disse...

(como é, aliás, exemplo, este teu comentário)

Anónimo disse...

Anonimal diz:

Did cocaine use by bankers cause the global financial crisis?
No Guardian em: http://www.guardian.co.uk/business/shortcuts/2013/apr/15/cocaine-bankers-global-financial-crisis

Já que estamos em maré politica que tal debruçarmo-nos sobre a verdadeira razão da crise. Gostaria de ver uma análise a este artigo.
Obrigado.

Anónimo disse...

Não é isso Tolan. É como ler uma crónica do Daniel Oliveira. A sério que é. Um tipo sabe que tu és bom a escrever romances ou posts sobre vicissitudes diárias. Mas quando metes na política, na economia ou na História, não sei... parece que perdes aura. E depois enfarilhas tanto que eu não percebo onde queres chegar. Olha, um livro que li do Buzzati; A Derrocada da Baliverna. Contos com o máximo de 10 páginas. Direto ao assunto.
É o mesmo que devias fazer quando postas sobre política, economia ou História. Sei lá. Ser conciso. Direto e elencar as coisas nos respetivos lugares e momentos. É por isso que apagas posts sobre política...
R.

Anónimo disse...

E desvio o assunto justamente porque não apanho a ponta solta que tu deixas :)
E não sofro tanto dessa dislexia :) E não sou profundamente ideológico. Isso sou eu a meter-me contigo.
R.