domingo, 17 de junho de 2012

Solar do Vinho do Porto

Solar do Vinho do Porto fechou em Janeiro e não tem data de reabertura - Público

 Na minha última ida ao Porto dei com o nariz na porta do Solar do Vinho do Porto: "Encerrado Temporariamente". Fiquei bastante aborrecido. Era um dos meus sítios (o sítio?) preferido na cidade do Porto e visita obrigatória. Leio agora no Público que fechou mesmo. Parece que tinha uma exploração altamente deficitária (mais de 40 mil euros de prejuízo por ano) e que precisava de obras. Fica ao lado do Museu Romântico, tem uma vista esplendorosa sobre o Douro e era a única forma economicamente viável de provar vinhos do Porto com 20 anos ou mais sem ficar falido.

 Claro que, com este conceito, quem ia à falência era o Solar. Os preços eram algo ridículos para os padrões de Lisboa.. Os vinhos do Porto mais antigos têm de se beber todos rapidamente depois de aberta a garrafa, oxidam muito rápido, 24 horas é o limite e, raramente temos a oportunidade (ou intenção) de esvaziar uma garrafa preciosa inteira numa ocasião, pelo que poder pedir a copo, num contexto daqueles, com vista sobre as caves e emoldurados pelos jardins românticos, era a forma ideal de o consumir.

 Não havia dois sabores iguais. E a experiência não tinha nada de snob chic. O serviço era simples, muito simpático e discreto. Em qualquer outro sítio normal de Lisboa teriam feito um esforço para acomodar mais pessoas, até para rentabilizar as garrafas raras e cartas abertas só para servir um cálice. A maior parte dos restaurantes reserva um ou dois vinhos para vinho a copo. Naquele tinha-se uma carta com dezenas e dezenas de vinhos diferentes. Seria preciso uma rotação enorme de gente para não atirar hectolitros de vinho oxidado para o lixo. Podiam ter retirado os canteiros e arbustos do pátio em frente ao solar para colocar mais umas mesas. Talvez até pudessem abater o muro de pedra para libertar a vista para as 2 mesas infelizes que ficavam mais afastadas do muro ou mesmo da parte interior do Solar que ficava num piso térreo.

 Uma mesa. Penso que a foto é antiga, acho que depois colocaram mais 2 mesas(!)
 

Mesmo tão pouco divulgado, era muito complicado conseguir uma das poucas mesas com vista e ficava-se frequentemente à espera no interior. E aí, os poucos sofás eram francamente pouco adequados a beber vinho do Porto e a conviver.

Parte do falhanço do Solar do Vinho do Porto era também o que o tornava único e especial. Parecia "um segredo" que se descobria por acaso, uma excentricidade ali metida. Há muito sítios assim no Porto, que causam uma espécie de sentimento de culpa porque parece que estamos a "roubar" em vez de ser roubados, habituados que estamos ao mind set de Lisboa.

A vista das 5 ou 6 pequenas mesas privilegiadas...


4 comentários:

Pipoco Mais Salgado disse...

Uma grande lacuna, meu caro. Comia-se uma francesinha no Capa Negra e em cinco minutos estava-se no Solar. Velhas relíquias de vinho do Porto, um bom livro ou uma boa companhia e estava feita a coisa.

Stiletto disse...

Cá em Lisboa há um, perto do Largo da Misericórdia, mas sem qualquer comparação.
Só lá fui 1 ou 2 vezes, era um ligar fantástico.
(passando as francesinhas do Capa Negra, eu gosto mais da Casa Aleixo, ali prós lados da Campanhã)

Anónimo disse...

As melhores francesinhas do Porto são no Bufet Fase (sim, eu sei que esta frase parece um bocadinho autoritária e até arrogante mas é que são mesmo and it's not even close). 3 ou 4 mesas, no balcão come-se em pé senão as pessoas não conseguem passar e não são comparáveis a mais nenhuma na cidade do Porto. Fica no cimo de Santa Catarina, quase a chegar ao Marquês e é uma experiência unlike any other (catano, hoje o português não me está a sair com facilidade). Deixando isto das francesinhas, era realmente um sítio lindíssimo e é com muita pena que descubro que fechou. Enfim. Tristezas forçadas por esta economia que não liga ao sentimento e à beleza (sim, sim, já sei que isto parece um discurso de um gajo de esquerda e alienado da realidade mas eu até sou de esquerda e, se sou psicólogo e trabalho com gajos alienados da realidade, por vezes dá jeito ver as coisas com as lentes deles)
Nuno Rechena

Bels disse...

Péssima notícia. Um sítio lindíssimo do qual tenho excelentes memórias, nomeadamente do casamento da minha irmã, num final de tarde de verão...