segunda-feira, 5 de março de 2012

escrevi isto a ouvir em loop uma música (a arkansas do damien jurado) que postei no meu facebook mas a letra nem sequer tem nada a ver, é só a música e, tipo, o sentimento.

Às vezes a rever o romance tenho a sensação que aquilo que sou mesmo bom é em ter um blogue e, por exemplo, postar sobre rever um romance. O facto de escrever um romance dá um carácter sério a tudo isto digamos assim. Há dias, li uma citação do Henry James no On Writing do John Gardner a dizer que qualquer ficção longa na primeira pessoa é uma barbárie. E o John Gardner concorda. E chorei muito. É por isso que vou demorar 2 anos a ler o On Writing. Cada parágrafo abala todos os fundamentos da minha fé e preciso de… ahahah estou a brincar.

Mas a sério, não era preciso todo um capítulo sobre aquela cena da vaca da Helena de Tróia que gostava de ver os homens à porrada por causa dela como a Inês no recreio da primária. Não creio que o aspirante a escritor queira estar especialmente consciente da grandeza da Ilíada e de Homero. Foda-se. Isso é um pouco o mesmo que passarem youtubes do Maradona aos juvenis de uma equipa de futebol para os “motivar”. Ok, eu li as cenas todas do Homero (duas cenas). São fixes no sentido épico mas aquilo que mantém uma pessoa à tona da água são os 99% de coisas que se publicam. É disso que precisamos, a mediocridade amiga. O Homero, por exemplo, nem ganhou o prémio Saramago, era mesmo bom. Mas nem era disso que queria falar.
Queria falar de um quarto de hotel, do monstro das pringles, de levar um empurrão violento quando penso que estou acordado e quieto mas estou a ressonar, de um jardim romântico com uma gruta para patos, de peles coladas de suor que magoam quando se separam, de champanhe barato e morangos com nutela, de dois vultos ao longe varridos de um pontão por ondas gigantes enquanto tiravam fotos com iPhone, de patos a ensaiar as formações em ‘V’ e de orgamos de falar francês com tom de voz grave enquanto ela prova uma vieira caramelizada.
A cidade torna-se um musical e uma comédia quando estamos de mão dada ou então é o céu e as nuvens que fazem aquela cena bíblica dos raios a sair das nuvens no mar e eu penso tenho de me lembrar disto quando chegar a minha hora. Porque eu penso nisso às vezes, sem medo, mas mesmo assim um bocado aborrecido disto acabar nem que seja porque o sol vai inchar daqui a milhões de anos e engolir tudo isto numa bola de fogo mesmo que a ciência descubra o truque genético da imortalidade - apenas ao alcance da carteira das pessoas como eu (que escolheram o curso certo e nunca fazem greve). Eu gosto muito de vocês todos *

6 comentários:

São João disse...

"orgamos de falar francês com tom de voz grave enquanto ela prova uma vieira caramelizada"... ai que canastrão... não ponhas isso do romance, que até parece mal.

Tolan disse...

agora já está -_-

POC disse...

Este cabeçalho está TOP. Em breve terás notícias minhas, atenta no e-mail!

Gostas de todos, menos de mim, espero. Fico desconfortável. Pareceu-me um final um pouco...pronto. OK.

trollofthenorth disse...

Senti-me o Homer, não o Homero. Parei nos morangos com nutela.

Tolan disse...

aahahahaha

Alexandra, a Grande disse...

Nós também gostamos de ti e a Helena de Tróia era de facto uma vaca.